quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O desfacelamento dos núcleos familiares

Embora tenha passado por profundas transformações nos últimos anos, o núcleo familiar, seja como for, continua sendo uma estrutura importantíssima para a educação do espírito como um todo. E mais do que a educação, é uma oportunidade de união de desafetos do passado, para novos reajustes, e também de estar junto daqueles que nos amam e nos querem bem, nos sustentando nas lides do globo.

Mas percebemos que as famílias atuais estão sofrendo processos que dilapidam essas oportunidades de crescimento intelectual, moral e espiritual. Um reflexo aparece nas escolas. Estudantes cada vez mais sem limites fazem o que querem sabendo que as consequências serão brandas demais.

A responsabilidade dos pais é muito grande e vai além dos limites da vida atual. A formação de uma família, com o casamento e o nascimento dos filhos, teve um planejamento anterior muito elaborado. E os integrantes dessa família, na grande maioria das vezes, foram os solicitantes de tal formação. No plano espiritual nós costumamos perceber melhor a necessidade da reconciliação e aí solicitamos a permissão de nascermos juntos, ora como filho, como pais, como irmãos. Daí a importância da boa educação dada pelos pais aos filhos. O relaxamento desses laços, conforme nos explica O Livro dos Espíritos, seria um agravamento do egoísmo (questão 775).

A infância é uma fase muito importante ao espírito, pois no período que compreende até os sete anos ela, criança, está mais apta a receber novos ensinamentos morais. Sua verdadeira "face" ainda está adormecida e despertará lá na adolescência. Se recebeu boas instruções, elas vão colidir com suas más inclinações do passado; serão um freio ao erro e ela poderá discernir entre aquele sentimento mais baixo de outrora e as novas resoluções do presente e futuro. Aí a decisão corre por conta do espírito; os pais fizeram a sua parte. Se, por outro lado, os pais foram omissos e não podaram as más inclinações dos seus filhos ou, pior, incutiram conceitos errôneos às suas vidas serão duramente cobrados pelas Leis Divinas e pela consciência que cedo ou tarde despertará.

Sobre o conceito de família encontramos uma passagem interessante em O Evangelho Segundo o Espiritismo: "Os Espíritos formam no espaço grupos ou famílias, unidos pela afeição, simpatia e semelhança de tendências. Esses Espíritos, felizes por estarem juntos, procuram-se. A encarnação apenas os separa momentaneamente, pois, após sua volta à erraticidade*, reencontram-se como amigos que retornam de uma viagem. Às vezes, uns seguem a outros juntos na encarnação, em que se reúnem numa mesma família, ou num mesmo círculo, trabalhando juntos para seu mútuo adiantamento.

Se uns estão encarnados e outros não, nem por isso deixam de estar unidos pelo pensamento. Os que estão livres preocupam-se com aqueles que estão encarnados, cativos da carne. Os mais adiantados procuram fazer progredir os que se atrasam. Após cada existência, terão dado mais um passo na busca da perfeição. Cada vez menos ligados à matéria, seu afeto é mais vivo, por isso mesmo mais puro, e não é mais perturbado pelo egoísmo, nem pelo arrastamento das paixões. Podem, assim, percorrer um número ilimitado de existências corporais sem que nada afete sua mútua afeição.

Deve-se entender que se trata aqui da verdadeira afeição de alma a alma, a única que sobrevive à destruição do corpo, pois os seres que se unem na Terra só pelos interesses materiais não têm nenhum motivo para se procurarem no mundo dos Espíritos. Apenas as afeições espirituais são duráveis; as afeições carnais acabam com a causa que as fez nascer, e essa causa não existe mais no mundo dos Espíritos, ao passo que a alma sempre existe. Quanto às pessoas unidas só por interesses, realmente não são nada umas para as outras: a morte as separa na Terra e no Céu."

E continua: "A união e a afeição que existe entre parentes são sinais da simpatia anterior que os aproximou. Por isso, diz-se, ao falar de uma pessoa cujo caráter, gostos e inclinações não têm nenhuma semelhança com os de seus parentes, que ela não é da família. Ao dizer-se isso, declara-se uma verdade maior do que se acredita. Deus permite essas encarnações de Espíritos antipáticos ou estranhos nas famílias, com o duplo objetivo de servir de prova para uns e de meio de adiantamento para outros. Além disso, os maus melhoram-se pouco a pouco ao contato com os bons, e pelos cuidados que recebem. Seu caráter se suaviza, seus costumes se educam, as antipatias se apagam. É assim que se estabelece a união entre as diferentes categorias de Espíritos, como se estabelece na Terra entre as raças e os povos."

Portanto aos pais que delegam a educação de seus filhos a terceiros; que priorizam as conquistas materiais em exagero, deixando de lado o convívio com os filhos, muito cuidado: serão cobrados duramente pelas faltas que cometeram. Se são seres antipáticos, a vida familiar é uma oportunidade de reconciliação. Deus delegou a criação de um de seus filhos e cobrará o que foi feito com ele.

* Um espírito que não está encarnado, mas que ainda precisa reencarnar em algum momento (ou seja, não alcançou a perfeição) está na erraticidade.

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