segunda-feira, 30 de maio de 2011

Perdão, palavrinha difícil

Se há uma palavra difícil de colocarmos em nosso dicionário pessoal é a tal “perdão”. E é fácil descobrir: quantas vezes não escutamos alguém dizer algo do tipo “não quero ver Fulano nem pintado de ouro”? Às vezes até nós mesmos falamos isso. Super comum.

Existe uma lei básica de Deus, a da afinidade, que afirma que atraímos para nós aquilo que queremos. Infelizmente vale para os dois lados da moeda. Quando desejamos o bem a alguém ou a uma situação estamos enviando, mesmo sem saber, energias positivas a esse objeto. Estamos encaminhando através do fluido cósmico universal nosso pedido, nossa aspiração. E aqui vale um adendo sobre fluido cósmico universal. Em O Livro dos Espíritos Kardec teve a seguinte resposta acerca dessa substância: "(...) Mas, ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, razão não haveria para que também o espírito não o fosse. Está colocado entre o espírito e a matéria; é fluido, como a matéria é matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que não apenas conheceis uma parte mínima. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá."

É o princípio da oração feita com fé. O desejo sincero movimenta esse fluido cósmico e é capaz de adulterá-lo. O pensamento caminha por ele até nosso objeto de desejo. Do mesmo modo quando guardamos ódios, ressentimentos e mágoas em relação a uma pessoa nós estamos enviando esses fluidos pesados até ela e, consequentemente, criando um elo de ligação entre os dois. Um elo pesado e ruim.

Mas o que tudo isso tem a ver com perdão? Simples: questão de mudarmos o tipo de laço que nos une às pessoas. Assim como o laço de amor sincero, de amizade e de respeito nos liga às pessoas queridas, os laços densos do ódio, do ressentimento e da mágoa também são capazes de nos reter em situações embaraçosas e desagradáveis. Por isso o perdão é tão recorrente nos textos evangélicos, pois ele é uma ferramenta que serve para quebrar algemas de dor. Quanto mais nos mantemos presos a alguém por laços de dificuldade mais nos atamos e mais difícil torna-se se libertar do jugo. Exemplos nas mesas mediúnicas não faltam, onde o sofrimento às vezes perdura há séculos, com vidas estacionadas em meio à lama da tristeza sem fim.

Quer um exemplo? Quando você pensa demais naquela pessoa que você deseja ver longe qual a probabilidade de cruzar com ela na rua, por exemplo? É a lei divina que volta a unir os que têm dificuldades com o propósito de discutirem o tema e perdoarem-se. Quando a gente fala na importância do perdão, do “amai-vos uns aos outros”, é preciso entender que isso deve ser feito de forma sincera. Não adianta perdoarmos da boca para fora. Assim como a reza sem fé, dita aos ventos, o perdão falso não tem a mínima validade, pois o que conta realmente é a vontade e não o ritual. "Eu perdôo, mas não quero ver o sujeito nunca mais" não tem muito efeito.

“Então quer dizer que devo perdoar o meu inimigo e amá-lo como amo o meu pai ou minha mãe?” perguntaria alguém. Perdoar sim, amar sinceramente talvez num futuro próximo. Não sejamos hipócritas. Sabemos que as coisas não funcionam dessa forma. Lembra-se da passagem de Jesus que afirma a necessidade de dar a cara a tapa? Não quer dizer que devemos ser submissos e aguentar toda sorte de pancadaria com um sorriso nos lábios. Jesus, em sua magnífica humildade, ensina que, na verdade, devemos estar susceptíveis em abrir os braços a quem nos agride. Ou seja: estar aberto à conversação e, jamais, responder ofensa com ofensa.

O fato de perdoar e não desejar o mal já é um avanço. Isso também é uma forma de amor. Entendendo que aquela pessoa também é filha de Deus, tem os seus problemas assim como nós temos. Quem está livre de fazer algo desagradável e ganhar a antipatia de alguém? Portanto, como já dizia Mateus, "Reconcilia-te o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto todos estais a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido em prisão – Digo-vos, em verdade, que daí não saireis, enquanto não houver pago o último real".

foto: b0881 /SXC.hu

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Reencarnação, mais uma chance que Deus nos dá

"Por que uns nascem ricos, bonitos, saudáveis e outros feios, pobres e doentes? O que eu fiz para merecer tamanha infelicidade? Será que Deus se esqueceu de mim? Há, realmente, justiça Divina?"

Várias vezes já nos fizemos essas perguntas e, para uns, as respostas parecem não existir. Simplesmente seriam obra do acaso ou, pior, seria Deus que escolheu ao léu quem viria feliz e quem passaria pelas maiores dificuldades. Entretanto, o Espiritismo - doutrina dos Espíritos, codificada por Allan Kardec – esclarece todas essas dúvidas baseado no princípio de que Deus é infinitamente sábio, justo e bom, que nos criou simples e ignorantes e evoluiremos ao longo das várias existências. Se partimos do pressuposto que Deus é justo, bom e perfeito, as causas de nossas dificuldades e benesses só poderiam ser justas e perfeitas. Deus não é caprichoso nem vingativo ao ponto de simplesmente escolher ao acaso quem será o que. Não dá para falarmos em reencarnação sem a justiça divina e nem em Espiritismo sem a reencarnação.

A vida é como uma escola. Todos precisamos passar pelas várias séries e se falhamos em uma matéria temos que repeti-la novamente. Por isso a reencarnação é a oportunidade de voltarmos e fazer novamente algo que não ficou bem feito. A fim de alcançarmos a perfeição Deus criou a Lei da Reencarnação, que consiste em nascer, viver, morrer, tornar a nascer progredindo sempre.

Certa vez durante um estudo em casa espírita entramos na questão da necessidade da reencarnação. "Não poderíamos aprender tudo no plano espiritual?" foi a pergunta que fizemos. De fato, sabemos que enquanto estamos na erraticidade (situação de um espírito que está desencarnado à espera de outra reencarnação, pois ainda não atingiu a perfeição) aprendemos muito, auxiliamos bastante e saldamos algumas dívidas contraídas em nossas existências. Mas nem sempre é suficiente, por isso a necessidade de vivermos em um corpo de carne, com o véu do esquecimento, para comerçarmos de novo a amar quem nos odeia, por exemplo. Embora guardemos ainda uma impressão mais ou menos boa em relação a determinadas pessoas, o esquecimento nos auxilia  a aprender a amá-las, o que é é na verdade o fim de todos nós: amar.

Sobre o assunto vejam que interessante a resposta que os Espíritos Superiores deram a Kardec na questão 132 de O Livro dos Espíritos quando ele pergunta sobre o objetivo da encarnação dos espíritos: "– A Lei de Deus lhes impõe a encarnação com o objetivo de fazê-los chegar à perfeição. Para uns é uma expiação; para outros é uma missão. Mas, para chegar a essa perfeição, devem sofrer todas as tribulações da existência corporal: é a expiação. A encarnação tem também um outro objetivo: dar ao Espírito condições de cumprir sua parte na obra da criação. Para realizá-la é que, em cada mundo, toma um corpo em harmonia com a matéria essencial desse mundo para executar aí, sob esse ponto de vista, as determinações de Deus, de modo que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta."

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo São Luiz comenta que "A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. É-lhes necessária, a bem deles, visto que a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o desenvolvimento da inteligência. Sendo soberanamente justo, Deus tem de distribuir tudo igualmente por todos os seus filhos; assim é que estabeleceu para todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de proceder. Qualquer privilégio seria uma preferência, uma injustiça. Mas, a encarnação para todos os Espíritos, é apenas um estado transitório. E uma tarefa que Deus lhes impõe, quando iniciam a vida, como primeira experiência do uso que farão do livre arbítrio. Os que desempenham com zelo essa tarefa transpõem rapidamente e menos penosamente os primeiros graus da iniciação e mais cedo gozam do fruto de seus labores. Os que, ao contrário, usam mal da liberdade que Deus lhes concede retardam a sua marcha e, tal seja a obstinação que demonstrem, podem prolongar indefinidamente a necessidade da reencarnação e é quando se torna um castigo".

Conforme visto, Deus nos deixou o livre arbítrio, através do qual fazemos nossas escolhas. Durante a caminhada evolutiva cometemos muitos acertos, mas também inúmeros erros e é preciso retificá-los em algum momento - até mesmo em outras vidas. Daí entendemos que as dificuldades podem ser apenas as dívidas de um deslize passado. Ou é possível, em uma vida apenas, deixarmos de lado todos as nossas imperfeições, como orgulho, ira, inveja? Se conseguirmos vencer uma dessas muitas dificuldades levantemos as mãos aos céus, pois conseguimos domar nossas más inclinações.

Alguns questionam "Se vidas passadas existem, por que não lembramos?". Porque Deus, na sua grande misericórdia, permite que nos esqueçamos do que já foi vivido para que nesta existência possamos conviver com os desafetos de outrora e poder perdoá-los ou sermos perdoados, uma vez que almas afins se atraem e se identificam. Deus sempre dá oportunidade aos seus filhos de se melhorarem.

É a Reencarnação a fonte de esperança que nos alenta e encoraja na luta incessante do aprendizado e no caminho do bem.

Colaborou Alexandra Mariz.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Considerações espíritas sobre o aborto

O primeiro dos direitos naturais do homem é o direito de viver. O primeiro dever é proteger a vida.

O aborto é para algumas pessoas a "solução rápida" para uma gravidez indesejada. Muitas mulheres optam por essa prática por medo de rejeição da família, pela não aceitação do parceiro, ou ainda porque não julgam adequado o momento para a maternidade - algo bastante comum, aliás, nesses tempos de emancipação e participação feminina enquanto mão-de-obra social. Encampam a máxima "sou dona do meu corpo e faço dele o que achar mais conveniente". Um pensamento bastante egoísta na verdade, pois o que está envolvido não é apenas o próprio corpo, mas também o corpo de um outro ser que está sendo gerado, já ocupado por um espírito e que não vem à vida a passeio: possui muitos objetivos, necessidades e dívidas a saldar.

No Brasil a lei permite o aborto em dois momentos: quando a concepção é produto de estupro ou quando a mãe corre risco de morte com a gravidez. Em alguns países, principalmente os ditos "superiores" em aspectos sociais e culturais (percebam que avanço social e tecnológico nem sempre corresponde ao avanço moral), o aborto é legalizado e acontece à vontade, porém aos olhos de Deus continua sendo um crime.
Para o Espiritismo, e outras religiões também, Deus é o criador universal e ele não deu o direito ao homem de tirar a vida de ninguém - inclusive de quem ainda não nasceu, mas já é um ser preparado para chegar ao mundo. Interromper uma gestação é um ato de grande responsabilidade. E não interrompê-la é um ato de amor. Entretanto, há quem o faça sem quaisquer considerações de natureza médica, moral, legal ou espiritual.

O Espiritismo não aceita a legalização do aborto, pois isso seria compactuar com o crime e a irresponsabilidade. Se pensarmos apenas no plano físico de que tirar a vida de um ser tão frágil é algo cruel, e que este também sofreria, no plano espiritual não é diferente: alguns espíritos não aceitam ser rejeitados pela mãe e se revoltam por muito tempo porque perdem a chance de nova oportunidade reencarnatória, gerando assim processos obsessivos.

Portanto devemos dar importância ao diálogo familiar e à responsabilidade. Gravidez deve ser um momento de felicidade e não uma péssima notícia. Planejar o futuro também é um ato de amor.

Quem você ama de verdade?

Quem você ama de coração? A mãe, o pai, o irmão? Bem, é fácil falar "eu amo" quando é alguém muito próximo e de quem naturalmente gostamos, concorda? E seria até um absurdo cogitar algo tão natural quanto esse tipo de amor. Mas se somos todos filhos de Deus devemos amar todo mundo, não é o que diz a passagem “amai-vos uns aos outros”? Pois é aí que o bicho pega.

Amar aquele que fala mal de mim pelas costas? Pois é gente... quem disse que ia ser fácil? Mas não há outro jeito de vivermos uma vida de paz e felicidade, pois é isso mesmo que Jesus quer: que amemos todo mundo! Mas esse “amar” não é sair de mãos dadas por aí dando beijinhos, pois sabemos que temos afinidades mais com uns que com outros. Ainda guardamos um significado muito romanceado de amor, mas na verdade pouco entendemos ele ainda. Amar significa também desejar o bem a essa pessoa e respeitá-la. Será que a gente faz isso?

Quem é adolescente está aprendendo a viver a vida agora. E não é fácil conviver com os outros, mas temos que fazer uma forcinha para nosso bem. Se algo nos incomoda é melhor aproveitar agora para resolver o assunto do jeito certo. A vida é igual à escola: se não aprendemos uma lição a gente toma bomba e precisa repeti-la. Então para quê vamos perder tempo se podemos estudar um pouquinho para passar direto? Parece que sentimos prazer em sofrer!

Jesus deixou um manual de instruções fabuloso para nós, o Evangelho. Então que tal aproveitar para aprender um pouco? Não é fácil e nem vamos conseguir melhorar de um dia para o outro, mas é assim que se começa. Quem patina no erro sofre as consequências inevitáveis das Leis Divinas que valem para todos nós. Ninguém nasceu sabendo de tudo, mas Jesus deixou tanta informação boa que só não vê quem não quer. A vida é uma prova que nos cobra todo dia. Então vamos aprender as lições da melhor forma possível. Desejar ao nosso colega aquilo que queremos para nossas vidas é amar também e um bom começo. Experimente!

Texto baseado no capítulo XI, “Amar o próximo como a si mesmo” do livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo” de Allan Kardec.

Ser perfeito em um mundo imperfeito. É possível?

Uma das coisas mais comuns quando alguém, ou nós mesmos, faz algo errado é encampar o discurso “Ah! Eu não sou perfeito mesmo...”. De fato, sabemos que realmente não somos perfeitos e temos uma grande caminhada pela frente em busca da felicidade eterna que nos é prometida por Deus e relembrada por Jesus e tantos outros apóstolos do Amor. Mas somos perfectíveis, ou seja, temos condições de nos tornarmos perfeitos. Portanto a falta dessa qualidade não implica que podemos justificar todos nossos atos faltosos colocando a culpa na “vida”.

Mas o que seria “ser perfeito” nos dias de hoje, na prática? Segundo “O Evangelho Segundo o Espiritismo” a ideia - que pode ser aplicada a qualquer religião - é abrangente: “O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de caridade em sua maior pureza. Se interroga a consciência sobre seus próprios atos; se não fez o mal e se fez todo o bem que podia; se negligenciou voluntariamente uma ocasião de ser útil; se ninguém tem o que reclamar dele; enfim, se faz a outrem tudo o que quereria que se fizesse para com ele”.

Percebam que o trecho acima aborda a questão do bom senso; de pararmos para avaliar todos os nossos atos. Aquele que diz “faço isso mesmo, pois não sou perfeito” não tem o costume de pensar no que faz. Ou se pensa o faz deliberadamente.

Nós não podemos mais utilizar essas desculpas infantis. Há muito tempo ouvimos todo dia diversas histórias sobre Jesus, sobre caridade, sobre a importância de melhorarmos, então ninguém pode dizer que “não sabia disso ou daquilo”. O tempo grita nos avisando que a hora de mudarmos nossa cabeça e o coração já chegou. O planeta é imperfeito? Certamente. Mas a imperfeição dele se dá por suas criaturas, então para bom entendedor pouca coisa, realmente, basta.

Texto baseado no capítulo XVII, “Sede perfeitos” do livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo” de Allan Kardec.